Há no
ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d'ais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.
As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados.
Sentem-se espasmos, agonias d'ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
- Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar
suave.
As tuas mãos tão brancas d'anemia...
Ou teus olhos tão meigos de
tristeza...
- É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim
do dia.
AH, UM SONETO...
Fernando
Pessoa
Meu coração
é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai
relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...
No movimento
(eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado
fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e
nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de
cansaços.
Mas - esta é boa! - era do coração
que eu falva...e onde diabo
estou eu agora
com almirante em vez de sensação?...
Vozes Do Mar
Florbela Espanca
Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d’oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...
Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?
Tens cantos d'epopeias?Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!
Donde vem essa voz,ó mar amigo?...
... Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa
saudade!
Portugal
Miguel Torga
(Miguel Torga, pseudónimo
adoptado em 1934 de Adolfo Correia da Rocha)
Avivo no teu
rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que de tou.
Mostro
aos olhos que não te disfugura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua
criatura,
Serás sempre o que sou.
E eu sou a liberdade dum
perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço.
Teimoso
aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem
nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta
ainda do que no passado.
Nunca manhã suave
Luís Vaz de
Camões
Nunca manhã suave,
estendendo seus raios pelo
mundo,
despois de noite grave,
tempestuosa, negra, em mar
profundo,
alegrou tanta nau, que já no fundo,
se viu em mares
grossos,
como a luz clara a mim dos olhos vossos.
Aquela
fermosura
que só no virar deles resplandece,
com que a sombra
escura
clara se faz, e o campo reverdece,
quando meu pensamento
s'entristece,
ela e sua viveza
me desfazem a nuvem da tristeza.
O
meu peito, onde estais,
e, para tanto bem, pequeno vaso;
quando acaso
virais
os olhos, que de mim não fazem caso,
todo, gentil Senhora, então me
abraso
na luz que me consume
bem como a borboleta faz no lume.
Se
mil almas tivera
que a tão fermosos olhos entregara,
todas quantas
tivera
polas pestanas deles pendurara;
e, enlevadas na vista pura e
clara,
- posto que disso indinas – ,
se andaram sempre vendo nas
mininas.
E vós, que descuidada
agora vivereis de tais querelas,
de
almas minhas cercada
não pudésseis tirar os olhos delas;
não pode ser que,
vendo a vossa antre elas,
a dor que lhe mostrassem,
tantas üa alma só não
abrandassem.
Mas pois o peito ardente
üa só pode ter, fermosa
Dama,
basta que esta somente,
como se fossem duas mil, vos ama,
para
que a dor de sua ardente flama
convosco tanto possa
que não queirais ver
cinza üa alma vossa.
Fado
O Fado é um estilo musical português.
Geralmente é cantado por uma só pessoa (fadista) e acompanhado por guitarra
clássica (nos meios fadistas denominada viola) e guitarra portuguesa.
A
palavra fado vem do latim fatum, ou seja, "destino". De origem obscura, terá
surgido provavelmente na primeira metade do século XIX.
Actualmente a
explicação mais aceite, pelo que diz respeito ao fado de Lisboa, é de que este
teria origem nos cânticos dos Mouros, que permaneceram no bairro da Mouraria, na
cidade de Lisboa após a reconquista Cristã. A dolência e a melancolia daqueles
cantos, que é tão comum no Fado, estaria na base dessa explicação.
Há ainda
quem aponte na sua génese uma síntese de géneros musicais, devido a abundante
presença de outros povos em Portugal, e à altura de grande popularidade em
Lisboa, como por exemplo o lundum e a modinha.
Um Raio
de Sol.
(Sávio
Assad)
Deixe o sol
invadir sua casa, ele restaura sua alma.
Deixe o sol
invadir seu coração, ele restaura sua vida.
Deixa o sol
invadir seu espírito, ele restaura seu amor.
Deixa o sol
invadir seu universo, ele eleva seu espírito.
Somos
caminhantes dessa vida e vivemos para nos esbarrar
Nos espinhos
deixados pelo caminho, machucando os pés e
Adentrando em
nosso coração, perfurando a alma de cada um.
Um raio de sol
secará as lágrimas, quando sentir dor.
Machucados por
entre capim navalha, também ficarás
E seu coração
sangrará, até dizimar esta dor interna.
Novas lágrimas
há de brotar, mas o calor que te envolve
Secará e te
levará a ver flores onde tiver que caminhar.
Assim, é meu
desejo a todos os amigos, que com carinho
Consegui
conquistar no dia-a-dia, sempre com palavras
Que saem do meu
coração. Te dedico este poema amigo(a).
Amália Rodrigues
(Cantora de
fado e atriz portuguesa)
23-7-1920, Lisboa
6-10-1999,
Lisboa
Amália da Piedade Rodrigues nasceu em 1920, em Lisboa, filha de
pais naturais da Beira Baixa. A data certa do nascimento é desconhecida: em
documentos oficiais nasceu a 23 de Julho, mas Amália sempre considerou que
nasceu no primeiro dia desse mês.
Estreou como
fadista em 1939 e alcançou de imediato um enorme sucesso junto do público. Em
1940, já atuava em Madri, dando início a uma brilhante carreira que repercutiu
não só em Portugal mas em todo o exterior. Amália Rodrigues atuou e é conhecida
em todo o mundo, sendo talvez o seu nome a palavra que internacionalmente se
associa com mais facilidade a Portugal. Amália interpretou o fado, uma música
tipicamente portuguesa, com entoação e sentimento inigualáveis, dando forma
própria a uma expressão musical tradicional que vem já do século passado XIX.
Entre seus fados de maior sucesso, encontram-se Estranha Forma de Vida, Povo que
Lavas no Rio e Casa Portuguesa, tendo, aliás, cantado versos de alguns dos
melhores poetas portugueses. Suas atividades estenderam-se igualmente ao teatro
e ao cinema, tendo participado em filmes como A Severa (1954), Capas Negras
(1946), Fado (1947) e Sangue Toureiro (1958).
Em 1944 viajou
pela primeira vez para o Brasil, onde actuou no Casino de Copacabana. O sucesso
levou a prolongar a estada de seis semanas para três meses, tendo regressado no
ano seguinte . Amália Rodrigues gravou os primeiros discos de 78 rotações, a 17
de Outubro de1945, no Brasil para a etiqueta
Continental.
Tempo do
Tempo
Iza
Mota
A espera do
tempo
todo dia,
a cada hora
um
minuto, segundos
Um tempo
corrido,
um sinal,
um aviso
para que possa
soltar
o riso que
fica contido
esperando o
abrigo
deste tempo
prometido.
Preciso
encontrar
um canto, um
remanso
que
acalme esse tempo
que te leva
para lida
me deixando a
deriva
neste
sentimento profundo
me perdendo e
me achando
num tempo que
não é eterno
e nem esta
sempre certo.
Em Abril de
1949 cantou pela primeira vez em Paris e em Londres, em festas do Departamento
de Turismo organizadas por António Ferro.
É de 1954 também o seu primeiro
álbum, Amália Rodrigues Sings Fado From Portugal And Flamenco From Spain,
publicado nos EUA pela Angel Records. Este álbum nunca foi publicado em Portugal
com o mesmo alinhamento.
No ano 1955 participou no filme Os Amantes do Tejo,
de Henri Verneuil, onde interpreta a Canção do Mar e o Barco Negro. Filma no
México Musica de Siempre com Edith Piaf. No dia 10 de Abril de 1956 estreou-se
no famoso Olympia, de Paris, numa das festas de despedida de Josephine Baker, e
em Julho de 1958 foi condecorada por Marcelo Caetano na Exposição Mundial de
Bruxelas. Tambem filmou o documentary "April in Portugal."
“ O BARCO... O VENTO... O MAR...E Eu... “
Rosa
Magaly Guimarães Lucas
- Eire
(Ao meu amigo e poeta português
Eugenio de Sá, que ama o mar)
Esse mar que eu amo tanto,
Traz-me à baila meu amor
Quando ondas do mar em canto,
Fazem das
espumas flor...
Se a brisa é fria, uso o manto
Do sol quente e
acolhedor...
Acomodo-me num canto
Do barco à vela sem cor
E o
vento passa por mim
A zunir qual diapasão...
Com frio me encolho
assim,
Deitadinha, ao rés do chão...
E o barco qual
bailarim
Segue a sua direção...
Em 1958 é a estreia do preimeiro filme colorido em Portugal
"Sangue Toureiro" a onde Amália interpreta um cantadeira. No dia 4 de Novembro
de 1958 estreou-se na televisão portuguesa no papel principal da peça O Céu da
Minha Rua, adaptada de uma peça de Romeu Correia.
Em 1961, confirmam-se os
boatos que desde há muito andam no ar. Amália casa-se no Rio de Janeiro com o
engenheiro César Seabra, e anuncia que vai abandonar a carreira artística
passando a viver no Brasil. Um ano depois Amália regressa a Lisboa
Em 1962
foi editado o álbum Amália Rodrigues, mais conhecido como Busto ou Asas
Fechadas, grande viragem na sua vida artística, onde canta Estranha Forma de
Vida, Povo Que Lavas No Rio, de Pedro Homem de Mello, e, pela primeira vez,
músicas de Alain Oulman. Em 1963, em Beirute, é tal o seu prestígio, que a
convidam a acompanhar com os seus fados uma Missa de Acção de Graças pela
independência do Líbano. E continua sempre a voltar aos países que não se cansam
de a reclamar. Em Paris, o acolhimento do público é sempre delirante, não só no
Olympia, como nos mais sensacionais acontecimentos artísticos.
QUE CANTEM OS POETAS
JORGE
HUMBERTO
Que cantem os
poetas,
Que digam os
loucos,
O que
disserem,
Palavra rude ou
bandeira,
Esgar ou
fonema,
Que
cantem,
Não mais
calem,
Pois quando a fome é
plena
E a desgraça um
teorema,
Toda a fonética é
pouca,
Para se dizer da voz a
boca
Da retorta que há num
tema.
Quando o poeta
canta
E traz a voz ao
homem,
Ou é sorte ou a
planta,
Dos versos quando
morrem.
Por isso, que cantem os
poetas,
Ou digam os
loucos,
O que
disserem,
Que não há grito, que cale a
fome,
Nem palavra, por nosso
nome,
Numa
criança,
Quando morre.
*******
Em 1964 Amália regressa ao Cinema com "Fado Corrido", um
Filme de Brum do Canto baseado num conto de David Mourão Ferreira, onde mais uma
vez lhe dão um papel de fadista. Na estreia do filme em Lisboa confirmou-se mais
uma vez que Amália continuava a ser a artista preferida do público português.
Onde quer que aparecesse era sempre uma sensação.
Em 1965, Amália atinge a
sua melhor interpretação no cinema em "As Ilhas Encantadas" do estreante Carlos
Vilardebó, baseado numa novela de Herman Melville. Neste filme, diferente de
todos os outros da sua carreira, Amália pela primeira vez não canta. Amália
volta a receber o prémio de melhor actriz com "As Ilhas Encantadas" e no ano
seguinte aparece no filme francês "Via Macau".
PÉTALAS DO UNIVERSO
Rogério
Miranda
Na liberdade da
alvorada,
deixei meu sonho
percorrer o universo,
para conhecer
um
mundo onde
mora a imaginação...
De estrela em estrela
procurei o
brilho
que me fascinou,
quando eu meditava
no silencio da
noite,
Nas nuvens, fui conhecer
o prateado que reflete
do dourado
do sol,
nas tardes onde
o arco íris,
convidam os pássaros
para
cantar em suas cores...
Na poeira
de uma estrela cadente,
colhi
sementes de lírios
sagrados com pétalas
da cor do
universo...
Plantei um campo
de lírios na fronteira
de minhas
esperanças,
onde Deus, me ensinou
a paz...
Em 1966,
é editado o primeiro disco em que recria o folclore, a que mais dois se
seguirão. Com uma grande orquestra sinfónica, dirigida por André Kostelanetz,
actua no Lincoln Center, em Nova Iorque, e no Hollywood Bowl, em Los Angeles.
Canta em França, Israel, Brasil, África do Sul, Angola e Moçambique. Amália
cantou na inauguração da Ponte sobre o Tejo, gravou Concerto de Aranjuez, com
uma letra em francês, e Vou Dar De Beber À Dor, de um compositor até então
desconhecido, Alberto janes, que se tornará num dos maiores êxitos de Amália,
com mais de 100 mil cópias vendidas.
Em 1967 em Cannes, Anthony Quinn, com
enorme entusiasmo, anuncia oficialmente que prepara dois filmes para Amália,
sendo o primeiro Bodas de Sangue de García Lorca. Mas Amália prefere exprimir-se
no canto.
Passagem
Aguida
Hettwer
Banhei minha alma, em perfume de rosas,
Nas
asas de meus sonhos voei para longe,
Atravessando curvas
sinuosas,
Recôndito de meus anseios abrange.
Suave aragem
envolvente, zelosa sobre a pele,
Adentram nos frisos deixados pelo
tempo,
O silêncio do âmago não dorme no peito fragele,
Embalo-me, nos
braços do amor, recanto do Olimpo.
Lágrima desce gelada, sob a
relva molhada,
Desfolhando minh ´alma ao vento, recolho-me,
Á sobra do
plátano, em retirada,
Visto-me de transparência, estatelando a dor que
oprime.
Bailando no suave perfume, a margem do coração,
No
transcorrer da viagem, desvenda-me em longínquas paisagens,
Buscando caminhos
prossigo, em dissertação,
No canto do olhar, levo a mágoa convertida em
perdão, em minhas passagens.
*********
Em 1969 cantou na União Soviética,
correndo o mundo que unanimemente lhe reconheceu o talento.
Em Janeiro de
1970, Amália parte para Roma para actuar no Teatro Sistina em Roma. O sucesso
foi tal que o fenómeno "Amália" se espalha por Itália. Começava então "La Folia
per La Rodrigues". Amália canta pela primeira vez em Tokyo, e também o Japão,
apesar de tão longínquo e com uma cultura tão diferente, se rende ao fascínio de
Amália . Desde então sucedem-se as tournées pelo Japão abrangendo várias
cidades. Todos os seus discos são editados nesse país, que com ela tanto se
identifica. É frequente, quando Amália parte para o Japão todos os seus
espectáculos estarem já esgotados, lançando assim Amália, uma verdadeira ponte
cultural entre Portugal e o Japão.
Em 1971 é o disco Com Que Voz que
conquista para Amália os mais importantes prémios da indústria discográfica: IX
Prémio da Critica Discográfica Italiana (1971), o Grande Prémio da Cidade de
Paris e o Grande Prémio do Disco de Paris (1975).
Elegia
LuliCoutinho
Foste
embora
Deixaste o vazio
O amor no cio
Morre agora.
Juntei
retalhos
Somei aos bugalhos
Os abortos do mal
E os anos de
sal.
Dissipei a trama
Esqueci os dramas
As montagens da vida
Ao
cárcere da lida.
Purifiquei os ares
Destilei os males.
Ateei-me ao
Sol...
Refiz-me em Vida.
*****
Em 1972 no Brasil, estreia-se no Canecão do Rio de
Janeiro Um Amor de Amália, onde, pela primeira vez num espectáculo organizado,
Amália canta e conta histórias da sua vida. O sucesso é tal , que o show é
repetido no ano seguinte. Esse espectáculo, onde Amália é acompanhada para além
da guitarra e da viola, por uma orquestra e um coro, foi gravado em disco.
No
dia 25 de Abril de 1974 dá-se a revolução que derrubou o regime fascista, que há
48 anos governava Portugal. Amália, devido a um contrato que tinha para actuar
na televisão espanhola, partiu para Madrid no dia seguinte. Em Lisboa, a grande
popularidade internacional de Amália fez com que, de imediato circulassem boatos
que a ligavam ao regime deposto. Embora só ligeiramente prejudicando a sua
carreira, estes boatos afectaram gravemente a sensibilidade de Amália. Apesar
destes boatos, Amália aparece logo no Coliseu onde 5 mil pessoas aplaudem de pé,
provando que o seu público nunca a abandonou. A partir dessa altura, faz as mais
longas tournées por Portugal, e o seu sucesso internacional continuou a aumentar
fazendo espectáculos por todo mundo.
POEMA DA IDADE.
Homenagem ao
idoso.
Edmen
Eu já fui jovem, belo, fogoso e viril.
Meus dias já
foram coloridos,
lindos como o arco-íris,
calmos como o céu cor de
anil.
Eu já fui pensador, orador eclético.
Entre tantos esportes que
pratiquei,
o que mais gostei foi o futebol.
Já tive um corpo atlético,
por isso pratiquei também
o voleibol.
Hoje vivo o verdor da passageira
idade.
Quem me vê, nem imagina,
da minha juventude,
que eu tenha tanta
saudade.
Quantos jovens param,
apenas para olhar,
meus passos
lentos,
quando nas ruas caminho devagar.
Minhas mãos trêmulas, quantas
vezes,
delas, caiu a bengala.
O jovem que me vê, consigo
exclama:
Comigo ele nem se iguala!
Esquecido que sou,
ninguém jamais,
nem imaginou,
que lá atrás,
no tempo ficou,
os dias de um vigoroso
rapaz.
Em 1976 são
editados Amália no Canecão, album ao vivo, que regista parte do show de Amália
naquele palco brasileiro em 1973, e Cantigas da Boa Gente compilação de material
lançado anteriormente em singles e Lps. Também neste ano canta no Théâtre de
Champs Elysées, em Paris. É publicado pela UNESCO o disco Le cadeau de la vie,
onde figura ao lado de Maria Callas, John Lennon, Yehudin Menuhim, Aldo
Ciccolini, Gyorgy Cziffra e Daniel Barenboim.
No ano de 1977 editadas mais
duas compilações – Fandangueiro e Anda o Sol na Minha Rua – de um novo single de
Alberto Janes, Caldeirada, e de Cantigas Numa Língua Antiga, primeiro álbum de
material original de Amália em três anos, embora dele façam parte alguns temas
já anteriormente registados pela fadista, aqui gravados em novas versões. Neste
ano volta ao Carnegie Hall de Nova York
ESPERANÇA
Milamarian
Vem na
magia da primavera que se vai
recolhe folhas minhas neste solo caídas
pois
o vento que sopra do alto da ermida
deixa no chão pétalas de um triste
haicai.
Plácido colo
recebe-me em abertos braços
longe de profanos versos mostra-me
Eterno
pacífico mar onde de joelhos me prosterno
tombo às Tuas ondas no
corpo em entrelaço.
Gravita em
torno de mim nesta árida terra
vertendo em amor nos rios de água
fluente
o sagrado licor que nem o tempo soterra.
E no respirar
de Tu'alma em mim tão sereno
contemplarei o reflexo Teu no vazio
poente
preenchendo enfim este universo obsceno.
Em 1980, Amália
edita Gostava de Ser Quem Era, o seu primeiro álbum de material inédito em três
anos, composto por dez fados originais com letras da própria Amália, escritas em
sua casa durante a convalescência de uma doença.Também em 1980 recebeu do
Presidente da Republica a condecoração de Grande Oficial da Ordem do Infante D.
Henrique. Logo em seguida é homenageada pela Câmara de Lisboa.
Amália edita,
em 1982, com poucos meses de intervalo, O Senhor Extraterrestre, um maxi-single
com duas canções de Carlos Paião, e "Fado", um novo álbum de estúdio composto
exclusivamente por novas gravações de composições de Frederico Valério, muitas
delas criadas por Amália. O álbum atinge o 5º lugar do top de vendas de álbuns
compilado pela revista Música & Som.
Em 1983, é editado o álbum Lágrima,
composto por 12 originais gravados durante 1982 e 1983, de novo com letras suas.
Será o seu último disco de material inédito
até à edição de
Obsessão, em 1990.
ESTAÇÕES
!!!!
José Ronaldo-JR
Tudo é um eterno recomeço
nesta era ou esfera
é como um
reinicio
como na primavera.
Questão de estação
outuno,
inverno ou verão
é uma transform "ação"
dependendo de cada
"irmão"
o que semeamos aqui ou acolá
sempre nos retornará
é
so olhar no "Uno e no "Verso"
e veremos o "Universo"
Lei da
"ação e reação"
não poderia ser diferente
se está frio ou
quente
depende tudo da "gente"
É editado, em 1984, Amália na Broadway, que
reúne oito standards de musicais americanos gravados por Amália em 1965 nos
estúdios de Paço de Arcos com o maestro inglês Norrie Paramor, mas nunca antes
editados em disco. As gravações haviam sido pensadas para um álbum de standards
americanos que nunca veria a luz do dia. O álbum atinge o 17º lugar do top
oficial de vendas de álbuns.
A 19 de Abril de 1985, Amália dá o seu primeiro
grande concerto a solo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. O sucesso do Coliseu
repete-se em Paris onde Amália é condecorada pelo Ministro da Cultura Jack Lang,
com o mais alto grau da Ordem das Artes e das Letras. E de Paris de novo parte
para o mundo. Em Julho é editado o duplo álbum O melhor de Amália – Estranha
forma de vida, que reúne 24 dos mais populares e aclamados fados de Amália e
atinge o 1º lugar do top de vendas, mantendo-se oito meses no top e vendendo
para cima de 100 mil exemplares. Na sequência do êxito, é editado um segundo
álbum compilação, O melhor de Amália volume II – Tudo isto é Fado, que
ultrapassa as 50 mil cópias vendidas e atinge o 2º lugar do top.
Não
envelheci... Amadureci
Avany
Morais
Em frente ao
espelho passo a vida à limpo.
Vejo claramente que nada mais é como
antes.
Analiso o rosto cansado...
As rugas em formação...
Marcas das
preocupações.
Os olhos de olhar distante...
Sempre a olhar em direção do
horizonte,
a espera do que sabe, nunca virá.
Traços de grandes
saudades...
Saudades do tempo que passou
e que fez questão de levar
a
vivacidade da juventude...
A felicidade tão sonhada...
Será que
envelheci?
Fixando o olhar no espelho
vejo, não o que está
explícito
na imagem cansada...
Minhas lembranças me levam para
além da
imaginação...
Ultrapasso os espaços, os firmamentos
e vou em direção de um
tempo,
que embora distante,
ficou gravado em minhas recordações.
Vejo
claramente sua imagem a me sorrir...
Um sorriso tão lindo!
Trazendo em sua
transparência
os momentos de felicidade...
Foram tão poucos, mas tão
intensos,
que estarão por todas as eternidades,
presentes em minhas
lembranças.
Sentir saudade...
Única saída para este amor
impossível.
Volto ao espelho e encontro-me.
É uma realidade um pouco
diferente.
Vejo que embora me encontre um pouco cansada,
eu ainda conservo
traços da juventude.
Analiso-me mais detalhadamente
e percebo que quando
penso em você,
eu fico mais jovem, mais bonita...
Fico mais cheia de
vida...
Noto, pelo brilho intenso que fica em meu olhar...
Numa expressão
de felicidade,
como num anti-gozo do amor a se realizar.
Eu não posso
negar o quanto amo você.
Está escrito nas estrelas...
No livro da minha
vida...
Na minha alma apaixonada,
que guarda sua imagem
inalterada,
para quando a saudade, como hoje,
bater, querendo rever o
livro da vida,
encontrar as imagens reais do que fomos,
do que não somos e
do que seremos.
Percebo então, que não envelheci.
Minha alma é quem
amadureceu,
afim de conservar inalterável,
a nossa história de
amor
Em 1987, é editada a biografia oficial de Amália, Amália – Uma
biografia, por Vítor Pavão dos Santos, director do Museu Nacional do Teatro,
jornalista e talvez o maior admirador de Amália em território português. O
primeiro CD de Amália é editado em Portugal: Sucessos, uma compilação concebida
originalmente para o mercado internacional, e que apenas ficará em catálogo até
se iniciar a transferência para CD dos vários álbuns de Amália. É também lançado
neste ano, o triplo-álbum de luxo Coliseu 3 de Abril de 1987, que regista, na
íntegra, o concerto de Amália no Coliseu de Lisboa naquela data. Obtém o Disco
de Ouro e atinge o 13º lugar dos tops.
SERENANDO O
CÉU
Sandra
Lúcia Ceccon Perazzo
É nesse mar de
amor
onde a pureza
encontra com a inocência
onde a
confiança dá a mão para o respeito
que vou
sereiando com os meus sonhos...
Nesse encontro
das águas límpidas
do rio e do
mar, envoltos pelas ilhas
serenando o
céu com o verde esperança
que encontro
com os meus ideais
Assim, vou
fecundando o vento esperança
espalhando
sorrisos de afeto
por entre a
ilha de terra e de mar
em cumplicidade com o
sol
Sinto o meu
coração em cachoeira
em louvor a
alma inocente da criança
jorrando amor,
pura alegria
de viver e
renascer
Canto o hino
da fraternidade
conduzindo o
barco ternura
suavizando as
dores do mundo
com sonho bom
em poesia
que revigora,
que desafoga
o naufrágio no mar do coração
Nesse diálogo
silêncioso
entrego a
natureza e ao homem
todo o meu
tesouro
Assim vou
mergulhando
na
luz do céu refeltida no
mar
pois ainda sou
muito pequena
para chegar às
alturas
Cá
embaixo desse céu sereno
dentro da
rebeldia do mar
É onde faço
moradia
porque ainda é
esse o meu lugar
Rogo a
Deus
muita
sabedoria
para alcançar
a grandeza da
humildade
a paciência, a
meiguice
a graça e o
encanto
da
simplicidade de AMAR
E quem sabe aí
poder voar...
Em 1989, comemorando os 50 anos de carreira de
Amália, a EMI-Valentim de Carvalho edita Amália 50 anos, uma colecção de oito
duplos-álbuns ou CD´s temáticos agrupando muitas das gravações de Amália para a
companhia, entre os quais várias raridades e gravações inéditas. Em Portugal ,
sobre o patrocínio do Presidente da Republica Mário Soares, de quem recebe a
Ordem Militar de Santiago de Espada, as comemorações são um verdadeiro
acontecimento a nível nacional. Festas, condecorações, exposições, tudo para
Amália não é de mais. Estas festividades, prolongam-se numa grande tournée
mundial.-LISBOA, MADRID, PARIS, ROMA, TEL AVIV, MACAU,TOKIO, RIO DE JANEIRO,
NOVA IORQUE. Também nesse ano é recebida pelo Papa, no Vaticano, em audiência
privada.
Ao sabor do Eça de
Queiroz
(Inspirado no livro "A
Relíquia")
Pedro
Valdoy
- O Teodorico não tem ninguém senão a
titi...
É necessário dizer sempre que sim
à titi...
- Sim, titi.
Num aperaltar duvidoso
Raposão pé
na igreja
pé no pecado
da inocente Adélia
Saltava meio ingénuo
meio
escabroso
de beijos na titi
de beijos ocultos
na folhagem de umas
saias
O pérfido feito anjo
numa avidez de jovem
Anjo
desnudado
num calafrio de religiosidades
na ignorância escabrosa
e
santa de uma velha
sua tia vestida de santidade
no meio da
padralhada
na felicidade de uma igreja
De barrete em riste
D.
Raposo Raposão
de alemão emplumado
lá vai para a sacrossanta
Jerusalém
de pensamentos maldosos
de saias
enraizadas
Maricoquinhas
a santa Mary
devota do Raposo
de
saias enfeitiçadas
a D. Raposão se agarra
num desfilar de amores
na
delícia breve
de uma Terra Santa
Num regresso
sonhador
de santos votos
à estronça titi
um desmiolado
preservativo
num embrulho religioso
aparece
num adeus ao promissor
futuro do Raposo.
Em 1990 vê ser editado Obsessão, o primeiro álbum de material
original e inédito de Amália em sete anos, composto por temas gravados durante o
interregno.
É editada, em 1991, a cassete de vídeo Amália live in New York
City registo do concerto no Town Hall de Novembro de 1990. Recebe do presidente
francês, Georges Miterrand, a Legião de Honra.
Em 1992 é editado o CD Abbey
Road 1952, que reúne a totalidade das primeiras gravações realizadas por Amália
para a Valentim de Carvalho nos estúdios de Abbey Road em
Londres.
"Flor
Minha"
manuel (duarte) de
sousa
Quantas flores haverão no
jardim
Quanta serão tão
lindas
Quantas terão algo de profundo para
contar
Quantas exalam o perfume desse
olhar
Quantas hipnotizam insectos como
eu
Quantas me dão a
tranquilidade
Quantas me inspiram tanta
paz
Quantas as que me oferecem do melhor
pólen
Quantas as que me iluminam o
coração
Quantas as que dão sabor ao meu
mel
Quantas me deixam
tonto
Quantas as que me fazem voltar para
trás
Quantas as que fazem perder o norte da
colmeia
Quantas me cantam ao
ouvido
Quantas as que me afectam a
alma
Quantas as que alumiam meu
andar
Quantas as que me deixam sem
jeito
Quantas existirão que fascinam
assim
Quantas não haverão
mais
Tu és a
primeira
Tu és a
última
Tu serás sempre
aquela
Tu serás a eterna janela
aberta
Tu, tu, tu...és a flor que desabrocha a cada
momento meu...
Em 1995, é editada pela primeira vez em CD a
compilação Estranha forma de Vida – O melhor de Amália, e a RTP transmite, ao
longo de uma semana, a série documental "Amália – Uma Estranha Forma de Vida,"
cinco episódios de uma hora dirigidos por Bruno de Almeida, incluindo muitas
imagens de arquivo provenientes dos cinco cantos do mundo e nunca antes exibidas
em Portugal. Neste ano é ainda editado Pela primeira vez – Rio de Janeiro, CD
que reúne as 16 gravações que Amália realizou no Rio de Janeiro em 1945 para a
editora Continental. É a primeira edição oficial em CD destas gravações, há
muitos anos indisponíveis em Portugal, restauradas digitalmente em Londres, nos
estúdios de Abbey Road.
CANTO DA TERRA
© Fernando
Tanajura
Escuto o canto da Terra
a
amadurecer em outras águas
Brasas desnudam peles
em
frente às pedras resignadas
como trapos
a rolarem doridos,
a engolir dores de dramas ocultos
Mastigam a minha
fome
enquanto arautos
anunciam uma canção sem vivência
Ouço o urro surdo das medusas
que vem do fundo do
mundo
misturando o vigor das loucuras cotidianas
em
cálices de pedras
— outras paixões despenteadas
aderem
sigilos aos espinhos
de raças desnudas
Ao tempo que
descubro o sal-gema
do vácuo do mundo,
entre o ranger dos
ossos
e a escuridão das noites,
desencavo carretéis de
estopas,
redescobrindo o ônix,
o rubi,
a
turmalina
e o perfume das boninas
Em círio
quase-perfeito,
junto meu ouvido ao chão
— como imã —
querendo escutar com gana
a cadência do canto da
Terra
Em 1997 é editado o seu ultimo álbum com
gravações inéditas realizadas entre 1965 e 1975, Segredo. Também em 1997 ocorre
o falecimento do marido de Amália, César Seabra, após 36 anos de casamento.
Amália publica um livro de poemas "Versos" na editora Cotovia. Nova homenagem
nacional na Feira Mundial de Lisboa Expo98.
Amália morre no dia 6/10/1999 em
sua casa, na Rua de S. Bento, em Lisboa.
Triste Rio Tejo
José Ribeiro Zito e Maria Thereza
Neves
(Portugal/Brasil-Poema a 4
mãos)
bate as águas contra as
margens
não ondula nem abre sorrisos ao cair do
sol
há
nevoeiro no fundo dos seus poros
a
tristeza cega os peixes esquecidos
as gaivotas não beijam mais a
espuma
ou brilham nas asas a cantar a
liberdade
hoje
,apático,turvo
caminha
na solidão sem esperanças
descolorido,em lágrimas,procura consolo no
mar
sente-se
um charco de águas esquecidas
a
apodedrecer de saudade
dos
carros apressados dos namorados
dos olhos
apaixonados
Hoje
não é mais o de outrora
nele navios carregados de aventuras e
perdições
sozinho,fraco,vai morrendo sem
destino
sem a
lembranças dos heróis,da hístória
dos
versos ,das cantigas com tranças azuis
perdeu a
musa e a poesia no cais
*****
Pesquisa:
https://www.geocities.com/cecskater1/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Portugal
https://www.zeliars.hpg.ig.com.br/poetas_portugueses.htm
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lisboa
https://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia.php?c=951
Outubro/2006
TTNeves e
Rivkah