Contam os Estoriadores
Rivkah Cohen



 

 

 

 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

Por anos

o tímido cedro

olhava de longe

a beleza de sua amada

e por amor se rendia.

 

Acompanhava

seu ritual,

sua florada,

uma flor especial

chamada pinha.

 

No coração

já não cabia,

o palpitar

desse amor que lhe doía!

Longelínio,

cones eretos,

folhas persistentes,

mas era por ela

que procuravam as aves

e as pessoas interessadas

no que produzia.

 

Que culpa

ele tinha?

Quando se viu já estava apaixonado

pela araucária,

poderosa e tão linda.

 

As outras riam,

caçoavam,

se divertiam.

Isso não está certo!

 

Onde já se viu

um cedro

querer polarizar

com outra espécie,

outra classe, outra linha!

 

- Não fui plantado,

se defendia.

Um pássaro

amando, como eu tenho amado..

- Ôooooh!

Vaiavam e o interrompiam..

 

Manhã, tarde, noite,

primavera, verão..

e num determinado dia

os ventos pareciam açoites.

Vieram com força de um furacão

e arrancavam folhas, raízes

 e as árvores gritavam,

gemiam..

 

Contam os estoriadores

de forma até bem detalhada

que o cedro,

todo ensangüentado,

ainda falou de amores

para a araucária, sua amada,

enquanto se despedia..