Tsedakah

צדקה

Tsedaká, Tzedaká, Tsedaqá ou Tzedaqá

Tsadik significa em Hebraico homem justo, probo.

O homem justo, personificado em Yoseph, é o fundamento do mundo; ele vive por sua fé, e em cada geração há pelo menos 36 homens (Lamed va vnik) cujos méritos sustentam o mundo. A criação foi feita graças ao tsadik; ele atua como parceiro de D'us e até pode anular decretos divinos. Na kabalah, o tsadik representa a penúltima das Sefirot. No movimento Chassídico um mestre era chamado tsadik, e acreditava-se que era possuidor de um elemento da alma de Mosheh. Como tal, estava acima das críticas de seus seguidores. Líder comunitário, que transmitia mistérios profundos mais por meio de histórias e parábolas do que por uma análise abstrusa dos textos talmúdicos, ele atuava como ligação entre o judeu comum e D'us.

Tsedakah, justiça!

Os profetas freqüentemente levantavam a voz em defesa dos pobres e encorajavam as pessoas a tratá-los com compaixão. Os próprios podres dão aos ricos a oportunidade de fazer uma mistsvá que é tão importante quanto todos os outros mandamentos. Deve-se ajudar a todos para conseguirmos a harmonia. A melhor forma de fazer justiça, em relação à ajuda, é aquela em que tanto o doador como o receptor são anônimos, e o pobre assim, não passa vergonha. As necessidades específicas do pobre devem ser supridas. Normalmente, deve-se verificar a boa fé de um homem pobre que pede auxílio, mas na festade Purim, quem quer que peça caridade, deve ser ajudado sem perguntas.

Deut. 15:7-8 : Se no meio de ti houver um mendigo entre teus irmão, numa das tuas cidades, na tua terra, que o Eterno, teu D'us, te dá, não endurecerás teu coração e não fecharás tua mão a teu irmão, o mendigo; mas lhe abrirás a tua mão e lhe emprestará o suficiente para o que lhe faltar.

Abrirás tua mão - A Terra pertence D'us; nós somos uma espécie de inquilinos neste mundo. Nosso semelhante tem tanto direito à vida e ao bem-estar quanto nós. Neste contexto, os bens materiais são apenas um meio para se atingir a felicidade. Se perdermos o fim maior, ou confundirmos o meio com o fim, nós nos tornaremos escravos de nosso apetite econômico e do nosso egoísmo.

A palavra hebraica Tsedaká é freqüentemente traduzida como 'ajuda', mas a tradução mais correta seria 'justiça ou retidão'. Ela difere da caridade pois esta é definida como "um ato de generosidade ou de auxílio a um pobre". A Tsedaká não é meramente um ato de caridade: toda vez que alguém proporciona satisfação a outros -- mesmo aos ricos --  com dinheiro, comida ou palavras reconfortantes, ele cumpre esta Mitsvá!

Existem muitas mitsvót englobadas dentro da mitsvá de Tsedaká, que por sua vez está englobada dentro do mandamento mais amplo de imitarmos as características do Todo-Poderoso. Da mesma forma que D'us cuida de nós, devemos nos esforçar para ajudar o restante da humanidade.

O Rambam, Maimônides (1135-1204), um dos grandes codificadores das Lei Judaica, estabeleceu uma hierarquia de 8 pontos para esta mitsvá:

1) Dar um presente, emprestar dinheiro, aceitar como sócio ou arrumar trabalho para alguém, antes que ele precise pedir caridade;
2) Fazer caridade com um pobre, onde ambos o doador e o destinatário não sabem a identidade um do outro;
3) O doador sabe quem é o destinatário, mas este não sabe quem é o doador;
4) O destinatário sabe quem é o doador, mas este não sabe para quem está doando;
5) O doador faz a caridade antes mesmo de lhe ser pedida;
6) O doador dá algo a um pobre depois de lhe ser pedido;
7) O doador dá menos do que deveria, mas o faz de uma maneira agradável e reconfortante;
8) O doador faz a caridade com avareza (ele sente incômodo neste ato, mas não o demonstra). Consta no Shulchán Aruch (O Código de Leis Judaico) (Yore Dea 249:3) que se a pessoa visivelmente demonstra desprezo, ela perde o mérito desta mitsvá.

Qual a origem da mitsvá de Tsedaká? A Torá declara: "Se houver um carente entre seus irmãos, numa de suas cidades, na terra que D'us deu a vocês, não endureçam seus corações nem fechem a mão a seu irmão carente. Vocês definitivamente devem abrir suas mãos e lhe emprestar o suficiente para o que lhe faltar (Devarim 15:7,8)".

Quanto devemos dar para Tsedaká? A Torá nos ordena dar um décimo de nossa renda líquida. É meritório dar 20% (Shulchán Aruch Yore Dea 249:1). Existem muitos exemplos na Torá onde nossos antepassados deram seu maasser (dízimo), como com Avraham (Bereshit 14:20) e Yaácov (Bereshit 29:22), bem como a mitsvá de darmos 10% de nossas entradas aos Leviim (membros da tribo de Levi) (Bamidbár 18: 21,24) e outros 10% aos pobres da localidade (Devarim 26:12).

Quanto devemos dar a cada individuo carente? O Gaon de Vilna (Lituânia, 1720-1797) explicou que o critério para darmos Tsedaká está indicado no versículo descrito no segundo parágrafo acima. Quando uma pessoa fecha sua mão, seus dedos parecem ficar todos com a mesma altura. Quando ela os abre, entretanto, percebe que cada dedo tem uma altura diferente. O mesmo se dá com a Tsedaká: Cada individuo carente tem necessidades diferentes e nossa obrigação com cada um varia conforme sua necessidade. O versículo 7 diz: "Não feche sua mão", ou seja, não dê a mesma quantia a todos os que lhe pedirem. O versículo 8 continua: "Vocês definitivamente devem abrir suas mãos", significando: 'Perceba que cada pessoa é diferente da outra e contribua conforme o caso'.

Como separamos o maasser? Muitas vezes é difícil para as pessoas se separarem de seu dinheiro. No primeiro parágrafo da oração 'Shemá Israel' está escrito: "Você deve amar seu D'us com todo seu coração, toda sua alma e todas suas posses". Os Sábios do Talmud perguntam: "Por que está escrito 'Todas suas posses'? A resposta: para algumas pessoas é mais difícil separar-se de seu dinheiro que se separar da própria vida".

Um método fácil para aqueles que recebem seu salário já deduzido de impostos é tirar 10% do valor e depositá-lo para alguma instituição realmente merecedora (Aconselhe-se bem antes de entregar o dinheiro. Lembre-se: Tsedaká é um 'negócio' espiritual. Da mesma forma que você não investiria seu dinheiro numa empresa ''picareta', não dê Tsedaká antes de assegurar-se onde irão aplicar seu dinheiro). Isto torna sua contabilidade honesta e transparente, tornando mais fácil cumprir esta mitsvá. Aqueles que têm empresas (onde sua conta corrente e a da empresa se confundem) ou vivem de outros investimentos, devem fazer um balanço semestral e separar o dizimo do quanto lucrou.

A Tsedaká deve ser dada com prazer e com um semblante agradável. Se um pobre lhe pede dinheiro e você não esta apto a ajudá-lo agora, não levante a voz ou aja desagradavelmente. Solidarize-se com ele e, calmamente,  expresse que gostaria de ajudá-lo, mas que neste instante não tem condições de fazê-lo. É louvável dar algo a uma pessoa pobre que pede um donativo, mesmo que seja uma pequena quantia.

A recompensa por praticar a Tsedaká é enorme !  Em Yom Kipur recitamos que "Três coisas revogam um Mau Decreto dos Céus -- Teshuvá (retornar ao caminho da Torá), Tefilá (orações) e Tsedaká (atos de justiça, de correção)". Acima de tudo, não dê com cara amarrada ou se arrependa de atos de Tsedaká (ou de qualquer outra Mitsvá) que tenha feito  -- você perderá o mérito do ato ! (Para maiores detalhes, recomendo enfaticamente o livro Love your Neighbor, do Rabino Zelig Pliskin, páginas 389 a 405).

Rabino Kalman Packouz

Traduzido por Gerson Farberas