MARIO CAPECCHI



 

 

 
 

 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

"Minhas recordações começam durante a guerra..

 

Vivíamos nos Alpes tiroleses quando a Gestapo

veio buscar minha mãe.

Eu tinha três anos e meio.

 

Minha mãe - Lucy Ramberg -

se apaixonou por um aviador italiano,

que veio a ser meu pai - Mario Capecchi,

mas logo teve que criar-me sozinha..

 

Mamãe era uma poeta, uma intelectual anti-nazista

e pressentia que algo ia acontecer com ela.

Vendeu tudo que tinha e entregou o dinheiro a um

agricultor de Tirol para que cuidasse de mim se,

por acaso, lhe acontecesse alguma coisa.

 

Minha mãe foi para um campo de concentração.....

 

Cuidaram-me por uns meses, mas um dia o dinheiro

de minha mãe desapareceu, acabei nas ruas.

 

Meu D'us! Só tinha quatro anos!

 

Até os nove anos sobrevivi nas ruas

com um grupo de crianças,

a roubar para comer durante a guerra,

mas recordo-me que sempre tinha fome!

 

De repente vi-me ao sul de Verona,

nu sobre uma cama, cansado, desnutrido, 

lutando contra a febre tifóide.

Essa minha guerra durou um ano!

 

No dia exato

em que eu completava nove anos,

no ano 1945,

minha mãe foi libertada de Danchau

e após 18 meses de muita procura,

me encontrou!

 

Aquele menino que deixou em Tirol,

agora era um delinqüente, na Calabria!

 

Não aprendi a ler até meus treze anos,

mas sabia tudo sobre a vida,

virei um expert em sobrevivência.

 

Minha mãe resolveu

que iríamos para a América,

onde tinha um irmão.

 

A ciência das ruas,

fez-me um investigador, pesquisador,

com uma certa intuição do futuro.

 

Nas ruas, aprendi a confiar em mim.

Creio que meu trabalho, como cientista,

está vinculado a essa época.

Minha mente era meu entretenimento.

Todo momento fazia planos que logo

teria que cumprir.

 

Ensino a meus alunos a serem pacientes.

Digo-lhes que ao invés de passar tanto tempo

pensando em algo, é melhor ir e fazer!

 

Não se deve dar muitas voltas,

tem-se logo que começar algo.

Para isso precisa-se ter um plano,

uma idéia de onde se quer ir

e desejar muito.

 

Existe, nos dias de hoje, um sentimento

que a recompensa tem que ser imediata.

Não! Ela é algo que leva tempo, esforço

dedicação, paciência.

Por isso é gratificante quando chega!"

 

* Mario Capecchi é Cientista molecular.

Ganhou o Prêmio Nobel em 2.007.

 

Tradução de Rivkah Cohen